O que é paralisia do sono?
Embora os estados de sono e vigília sejam geralmente claramente definidos e distintos, a paralisia do sono pode desafiar esses entendimentos.
A paralisia do sono é caracterizada pela atonia muscular que é basicamente a incapacidade temporária de se mover que ocorre logo após adormecer ou acordar. Durante os episódios, as pessoas relatam que mantêm a consciência porém tem a sensação de estarem paralisados. Além disso é comum que as pessoas descrevam terem alucinações perturbadoras e uma sensação de sufocamento durante os episódios.
Isso acontece pois ao adormecer, seu cérebro envia sinais que relaxam os músculos em seus braços e pernas. O resultado – atonia muscular – ajuda a mantê-lo imóvel enquanto sonha, o que ocorre principalmente durante a fase de movimento rápido dos olhos (REM). Sendo assim, o que ocorre na paralisia do sono é que você recupera a consciência, mas não o controle sobre seus movimentos.
Embora muito ainda seja desconhecido sobre a paralisia do sono, aprender sobre os tipos, sintomas, causas, impactos e tratamento pode permitir uma melhor compreensão da condição e maneiras de preveni-la.
Ela é comum?
A paralisia do sono pode ocorrer em qualquer idade, mas os primeiros sintomas geralmente aparecem na infância, adolescência ou idade adulta jovem. Depois dos primeiros episódios ocorrerem na adolescência é comum que se intensifiquem na faixa dos 20 e 30 anos.
Apesar da pouca quantidade de dados pesquisadores acreditam que cerca de 20% das pessoas experimentam paralisia do sono em algum momento de sua vida. Também não é bem conhecida a frequência de ocorrência de episódios de paralisia entre as pessoas que já apresentaram a condição ao menos uma vez.
Como é a sensação de ter paralisia do sono?
Durante um episódio de paralisia do sono, você está ciente de seu ambiente, pode mover seus olhos e respirar mas não pode se mover ou falar. Além disso, estima-se que 75% dos episódios de paralisia do sono também envolvem alucinações distintas dos sonhos típicos.
As alucinações durante a paralisia do sono se enquadram em três categorias.
- Pressão no peito: também chamadas de alucinações de íncubo, esses episódios podem incitar sentimentos de sufocação. Eles ocorrem frequentemente em conjunto com alucinações de intruso.
- Vestibulo-motoras (V-M): as alucinações V-M podem incluir sensações de movimento, como voar, ou sensações fora do corpo.
- Intruso: essas alucinações envolvem a percepção de uma pessoa ou presença perigosa no quarto.
Quanto tempo pode durar a paralisia do sono?
Os episódios podem durar de alguns segundos a cerca de 20 minutos, e o tempo médio1 é de seis a sete minutos. O normal é que os episódios terminem por conta própria, mas ocasionalmente são interrompidos pelo toque ou voz de outra pessoa, ou pelo esforço intenso para se mover que supera a atonia.
O que causa a paralisia do sono?
A causa exata da paralisia do sono é desconhecida. Durante suas análises sobre quais as principais fatores que levam a um risco aumentado de se ter a doença, pesquisadores encontraram resultados mistos2. Com base nesses achados, as conclusões até o momento indicam que que múltiplos fatores estão envolvidos na ocorrência de episódios de paralisia do sono.
Alguns fatores são(mas não se limitam a):
- Apneia obstrutiva do sono (AOS): Um estudo3 realizado com pacientes que possuem AOS mostrou que 38,3% deles teve Paralisia Isolada do Sono.
- Insônia: sintomas como ter dificuldade para dormir e sonolência excessiva durante o dia, foram encontrados relacionados à paralisia do sono. Pessoas cujos ritmos circadianos não estão alinhados com seu ciclo dia-noite local, como pessoas com jet lag e trabalhadores noturnos, também podem ter maior risco de paralisia do sono.
- Transtornos de ansiedade: incluindo transtorno do pânico, parecem aumentar probabilidade de experimentar a condição4.
- Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT): Existem evidências de que pessoas expostas a angústia física e emocional tem maior probabilidade de ter episódios de paralisia do sono.
- Interrupção no uso de substâncias: Parar de beber álcool, antidepressivos ou outras substancias que interfiram no ciclo do sono pode levar a um “rebote” do REM, o que também pode causar paralisia do sono.
- Narcolepsia: Uma das formas de narcolepsia ocorre com a cataplexia que é basicamente uma perda breve e repentina do controle voluntário de músculos do corpo, que ficam fracos ou mesmo paralisados.
Pesquisas adicionais são necessárias para investigar essas correlações e entender melhor as inúmeras causas potenciais da paralisia do sono.
Quem corre mais risco de ter?
Paralisia do sono rara ou isolada pode ocorrer em pessoas de todas as idades. Ela é mais comum no contexto de privação de sono em associação com uma mudança no horário de sono, o que pode acontecer se você é um estudante universitário ou faz trabalho por turnos. Paralisia do sono recorrente, entretanto, costuma ser um sintoma de narcolepsia, um distúrbio de limites instáveis entre vigília e sono.
Quais os tipos de paralisia do sono?
Durante o diagnóstico os especialistas tentam identificar ao menos dois tipos de padrões diferentes são eles:
- Recorrência: Um único episódio de paralisia do sono pode ser traumático o suficiente para que uma pessoa precise buscar ajuda profissional. Dessa forma entender se há recorrência e qual a frequência dos episódios ajudam a decidir qual a melhor opção de tratamento.
- Causa é isolada ou não5: Para se qualificar como paralisia do sono “isolada”, os episódios não devem ser melhor explicados por outros distúrbios do sono (como a narcolepsia), efeitos de medicamentos ou outras substâncias. As alucinações estão frequentemente presentes durante os episódios, mas não são necessárias para um diagnóstico.
Quando devo procurar um profissional de saúde?
A paralisia do sono pode ser uma experiência bastante estressantes e por isso pode te deixar com certo medo ou ansiedade na hora de dormir. Caso isso te incomode, procure um profissional de saúde da área, médico ou psicólogo, para que ele possa te ajudar a dormir melhor. É interessante que você também procure um profissional caso esteja sentindo sono excessivo durante o dia.
Como é feito o diagnóstico?
O profissional de saúde deve avaliar o quadro por meio de perguntas sobre os seguintes temas:
- Sintomas, como com que frequência você experimenta paralisia do sono, como é e quando começou.
- Sono, como quantas horas você dorme à noite e se sente cansado durante o dia.
- Histórico médico, incluindo medicamentos que você está tomando e se fuma, usa álcool ou drogas ilegais.
- Distúrbios de saúde mental, que podem incluir transtornos de ansiedade, transtornos de estresse pós-traumático ou depressão.
- Histórico familiar de paralisia do sono.
Normalmente não há necessidade de se realizar nenhum exame mais complexo, porém, se o profissional de saúde suspeitar que você tenha algum distúrbio do sono, ele poderá recomendar testes. Você pode precisar de:
- Polissonografia: O teste monitora sua respiração, batimentos cardíacos e atividade cerebral enquanto dorme. Ele pode permitir que profissionais de saúde observem um episódio de paralisia do sono ou detectem problemas como apneia do sono.
- Teste de latência do sono múltiplo (MSLT): Este teste mede a rapidez com que você adormece e que tipo de sono você experimenta durante uma soneca. O teste ajuda a descobrir problemas como narcolepsia, que é a causa mais comum de paralisia do sono.
Quais são os tratamentos para a paralisia do sono?
Em geral, há poucas evidências científicas sobre o tratamento mais eficaz para a paralisia do sono.
Um primeiro passo no tratamento da paralisia do sono é falar com um médico para identificar e abordar problemas subjacentes que possam estar contribuindo para a frequência ou gravidade dos episódios. Por exemplo, narcolepsia ou apneia do sono.
Além disso, muitas pessoas não sabem que a condição é relativamente comum e, portanto, se sentem envergonhadas depois dos episódios. Outro fator que pode contribuir para a vergonha é acreditar que possa ser algo sobrenatural, como um espírito ruim que está perseguindo a pessoa por causa de algo que ela fez. Por isso, o simples reconhecimento e normalização dos sintomas por um médico podem ser benéficos.
Devido à conexão entre a paralisia do sono e problemas gerais de sono, a melhoria da higiene do sono é um foco comum na prevenção da paralisia do sono. Existem várias técnicas de higiene do sono que podem contribuir para uma melhor qualidade do sono e descanso noturno mais consistente.
- Reduza o uso de substâncias: reduza a ingestão de álcool e cafeína, especialmente à noite.
- Estabeleça uma rotina: siga o mesmo horário para dormir e acordar todos os dias, incluindo fins de semana. Uma rotina pré-sono relaxante pode ajudá-lo a se sentir confortável e relaxado.
- Remova distrações: guarde dispositivos eletrônicos, incluindo telefones celulares, por pelo menos uma hora antes de dormir.
- Aprimorar seu espaço de sono: equipe sua cama com o melhor colchão e melhor travesseiro para suas necessidades. Também é útil projetar seu quarto para ter uma intrusão limitada de luz ou ruído.
A melhoria da higiene do sono é frequentemente incluída na terapia cognitivo-comportamental para insônia (TCC-I), que trabalha na reformulação de pensamentos e emoções negativas que prejudicam o sono. Embora tenha sido desenvolvida uma forma específica de TCC para a paralisia do sono6, é necessária mais pesquisa para validar sua eficácia. A TCC já é utilizada com sucesso para tratar condições de saúde mental como ansiedade e transtorno de estresse pós-traumático, que podem ser fatores que influenciam o risco de paralisia do sono.
Alguns medicamentos são conhecidos por suprimir o sono REM e podem ajudar a interromper a paralisia do sono. Esses medicamentos podem ter efeitos colaterais e podem causar um rebote no sono REM quando alguém para de tomá-los. Por essas razões, é importante conversar com um médico antes de tomar qualquer medicação para discutir seus possíveis benefícios e desvantagens.
Perguntas frequentes
Você pode experimentar apenas um episódio em sua vida. Mas também pode ir e vir. Você tem mais chances de ter um episódio durante períodos de alto estresse quando está experimentando privação de sono.
A percepção dos episódios de paralisia do sono varia significativamente com base no contexto cultural de uma pessoa7. Atonia é frequentemente angustiante, e alucinações perturbadoras podem tornar os episódios ainda mais traumáticos. Por esse motivo, cerca de 90% dos episódios estão associados ao medo, enquanto apenas uma minoria tem alucinações mais agradáveis ou até mesmo felizes.
Dessa forma, algumas religiões ou sacerdotes podem interpretar tais episódios como alguma interferência espiritual na vida da pessoa chegando até mesmo a interpretarem como possessão demoníaca. Nos Estados Unidos episódios de alucinação durante a paralisia do sono são até conhecidos como demônios do sono. No Brasil existe o mito da Pisadeira, uma mulher que viria durante a noite e pressionaria o peito das pessoas gerando a sensação de falta de ar.
Por outro lado, religiões como o espiritismo podem interpretar de maneira mais branda, acreditando que sejam indicativos de mediunidade incipiente. Essas interpretações costumam dizer que durante os episódios de paralisia do sono ocorre um momento em que a alma adquire consciência externa ao corpo, entretanto a pessoa não consegue se mexer simplesmente por não ter familiaridade com aquela condição.
Enfim, existem muitas outras interpretações pelo mundo, porém, é importante ressaltar, que existe uma interpretação cientifica, baseada em estudos e testes também. Se você tem uma crença religiosa, saiba que você pode aliar a seu trabalho espiritual, terapias médicas e acompanhamento psicológico para obter uma melhora de qualidade de vida mais rápida.
Para a maioria das pessoas, a paralisia do sono não é considerada perigosa. Embora possa causar angústia emocional, é classificada como uma condição benigna e geralmente não ocorre com frequência suficiente para causar efeitos significativos na saúde.
No entanto, cerca de 10% das pessoas têm episódios mais recorrentes ou incômodos que tornam a paralisia do sono especialmente preocupante. Isso pode levar a pensamentos negativos relacionados ao sono e provocar ansiedade em torno da hora de dormir, o que pode dificultar ainda mais o sono. A privação de sono pode levar a sonolência excessiva durante o dia e inúmeras outras consequências para a saúde geral de uma pessoa.
- Sharpless BA. A clinician’s guide to recurrent isolated sleep paralysis. Neuropsychiatr Dis Treat. 2016 Jul 19;12:1761-7. doi: 10.2147/NDT.S100307. PMID: 27486325; PMCID: PMC4958367.[↩]
- Zhang W, Guo B. Freud’s Dream Interpretation: A Different Perspective Based on the Self-Organization Theory of Dreaming. Front Psychol. 2018 Aug 23;9:1553. doi: 10.3389/fpsyg.2018.01553. PMID: 30190698; PMCID: PMC6115518.[↩]
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- Singh S, Kaur H, Singh S, Khawaja I. Parasomnias: A Comprehensive Review. Cureus. 2018 Dec 31; Acessado em 10-04-2023, Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/30868021/[↩]
- Sharpless BA. A clinician’s guide to recurrent isolated sleep paralysis. Neuropsychiatr Dis Treat. 2016 Jul 19; Acessado em 10-04-2023, Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4958367/[↩]
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- Olunu E, Kimo R, Onigbinde EO, Akpanobong MU, Enang IE, Osanakpo M, Monday IT, Otohinoyi DA, John Fakoya AO. Sleep Paralysis, a Medical Condition with a Diverse Cultural Interpretation. Int J Appl Basic Med Res. 2018 Jul-Sep;8(3):137-142. doi: 10.4103/ijabmr.IJABMR_19_18. Erratum in: Int J Appl Basic Med Res. 2018 Oct-Dec;8(4):272. PMID: 30123741; PMCID: PMC6082011.[↩]
